terça-feira, 13 de maio de 2014

Álvaro de Campos e Fernando Pessoa

Álvaro de Campos e Fernando Pessoa


Fernando Pessoa pode muitas vezes ser comparado a Álvaro de Campos.

Campos pode ter passado por três fases poéticas, no entanto a sua última fase, mais Intimista, mostra um Fernando Pessoa um pouco transfigurado. De fato, só se consegue distinguir a poesia do ortônimo da última fase deste heterônimo através das características formais, tais como figuras de estilo, ausência de rimas, versos longos e linguagem mais emotiva e descontrolada. Fernando Pessoa afirma ter criado Campos para poder dizer tudo o que não podia como Fernando Pessoa. E talvez por isso, nesta última fase poética do heterônimo, são confundíveis os poemas de ambos - ortônimo e heterônimo.
Começa por deixar transparecer a dor de se lúcido e poder pensar, ter consciência de tudo e não mais ingenuidade. Existe a angústia existencial, que demonstra uma enorme solidão interior, tristeza, dor para com o mundo e o fato de sua personalidade interior estar feita em pedaços como de um vidro estilhaçado se tratasse. Ambos demonstram a inquietação que sentem pela existência de enigmas indecifráveis que nem através de análises intensivas se conseguem explicar. Estão cansados, de algo que não se pode explicar, por variadas razões que provocam o cansaço de vida, que indicam não existirem mais razões para viver, para existir, para ser. O tema predominante é a nostalgia dos tempos passados, dos tempos de infância, o que o que provoca dores espirituais mais fortes que a pior das dores físicas. Há desencanto para com o mundo exterior, que desmotiva, entristece, perturba e magoa.
Ambos são como um só neste momento. Pessoa mostra-se mais reservado, escrevendo através de linguagem mais simples, sóbria e espontânea, enquanto que Campos, mesmo angustiado e frustrado, transmite emoções mais fortes, maior angústia e raiva, contrastando com enumerações, aliterações, pontuação emotiva e todo um sem-fim de recursos estilísticos. Pessoa prefere uma métrica curta, sucinta, com a redondilha, enquanto que Campos não se preocupa com pormenores, focando-se na transmissão do que sente.
Campos e Pessoa não podem ser comparados em mais nenhuma das fases do primeiro, por apresentarem outra características: procura de novas sensações, elegia da civilização industrial, ânsia do absoluto, vontade de ser e sentir tudo, sexualidade e masoquismo, transgressão da moral pré-estabelecida.

Roseli Mihara de Carvalho Rodrigues
R.A.: B93371-2

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