sexta-feira, 23 de maio de 2014
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Sou um evadido
Sou
um evadido.
Logo
que nasci
Fecharam-me
em mim
Ah,
mas eu fugi.
Se a
gente se cansa
Do
mesmo lugar,
Do
mesmo ser
Por
que não se cansar?
Minha
alma procura-me
Mas
eu ando a monte,
Oxalá
que ela
Nunca
me encontre.
Ser
um é cadeia,
Ser
eu é não ser.
Viverei
fugindo
Mas
vivo a valer
Fernando Pessoa
Neste
poema nota se aliteração e assonância, como efeito de rima. Ao usar o termo “sou
um evadido”,O poeta caracteriza a sua realidade, fragmentada.
Daliane Reis Santos de Jesus R.A B93372-0
terça-feira, 20 de maio de 2014
Fernando Pessoa e seus Heterônimos
Fernando Pessoa liderou o movimento modernista em Portugal, cujos ideais vieram à tona na revista Orpheu. Considerado um escritor singular e muito criativo, foi através da heteronomia que Fernando Pessoa alcançou o prestígio e o sucesso não só em Portugal, mas em toda a literatura universal.
Através de seus heterônimos, Fernando Pessoa mostrava seu vasto projeto artístico: seus heterônimos tinham biografia, estilo e ideais próprios, eram diferentes uns dos outros. Foram mais de 70 heterônimos criados, alguns desenvolvidos completamente, outros não. Os mais marcantes foram: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Como ele mesmo, Fernando Pessoa tinha um forte traço nacionalista. Alimentava o gosto pelo épico e fazia retomada às Grandes Navegações, época de grandes conquistas para Portugal que foi apagado com o tempo.
Voltando-se para temas tradicionais, vemos ainda um traço saudosista nele.
Quando falamos deste genioso artista, é necessário fazermos uma distinção entre todos os poemas que assinou com o seu verdadeiro nome - poesia ortônima e todos os outros, atribuídos a diferentes heterônimos.
Ao contrário dos pseudônimos, os heterônimos constituem uma personalidade fictícia, sobretudo de autores. Sendo assim, Fernando Pessoa não só criou outros nomes para assinar seus textos, mas, junto deles, criou suas respectivas biografias. Essa questão resulta de características pessoais referentes à personalidade do próprio Fernando Pessoa: o desdobramento do "eu", a multiplicação de identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua criação literária.
Fernando Pessoa concebia seus heterônimos não apenas como vozes poéticas, mas como indivíduos completos, com hábitos, fisionomias, tipos físicos e psicológicos específicos.
O primeiro deles, Alberto Caeiro, nasceu em 1889, em Lisboa, tendo passado praticamente toda a sua vida no campo, sem profissão definida. Perdeu pai e mãe precocemente, passando a viver com sua tia-avó. Sua educação formal limitou-se ao ensino primário, mas era um homem bastante sábio, tanto que se tornou o mestre de Álvaro de Campos, Ricardo Reis e de Pessoa “ele mesmo”. Tinha olhos azuis, era louro e de aparência mais forte do que realmente era. Morreu em 1915, vítima de tuberculose. A Alberto Caieiro é atribuída a autoria dos poemas de “O guardados de rebanhos”.
Um dos poetas mais importantes da literatura portuguesa, Fernando Pessoa escrevia também em inglês, já que morou por um bom tempo na África do Sul. Inclusive, em vida, teve mais obras publicadas em inglês, a única em português foi “Memórias”. O conhecimento em línguas fez com que trabalhasse por um longo tempo com tradução.
Com biografias específicas, cada autor possui textos com temas e opiniões diferentes. Caeiro é o mestre, sendo admirado por todos os outros.
Fernando Pessoa pode ser classificado como modernista, já que foi um dos autores que introduziu o movimento em Portugal. Junto com escritores como Mário de Sá Carneiro, Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho.
Fernando Pessoa (ortônimo).
Tinha uma personalidade com conflitos não solucionados, com inibições de um comportamento sexualmente indeciso, oscilando entre o melindre e a tentação dos sentidos, decepcionado pelo seu corpo material e pelas circunstâncias de vida que o limitavam - era magro, calvo disfarçado pelo chapéu, sem sucesso amoroso, sem carreira profissional, endividado, porém com uma superação na escrita que proporcionou desdobramentos de sua personalidade. Vivia em um processo constante de busca esotérica sobre si mesmo e sobre Portugal.Apresentava reflexões sobre identidade, noções de verdade e existencialismo. Mas é importante perceber que como o escritor criou diferentes heterônimos, é possível encontrar na obra de Fernando Pessoa diferentes estilos.
Falar sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos é se referir ao poeta que soube cantar na poesia a insustentável leveza do ser diante de algo que, ainda hoje, é indizível,mas que o maior poeta português de todos os tempos, na nossa opinião, passou a vida toda tentando nos mostrar com seus poemas e sua prosa poética, uma obra nunca finda, embora sempre pronta para receber novas gerações de espíritos apaixonados pelo fazer poético.
Fontes
Heterônimos de Fernando Pessoa
Wikipedia - Álvaro de Campos
Wikipedia - Alberto Caeiro
Wikipedia - Fernando Pessoa
Wikipedia - Ricardo Reis
Ana Paula Lopes de Lima RA B9441D-4
Análise da obra de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Escolhemos 3 poemas para analisarmos, são estes:
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
POEMA EM
LINHA RETA
"Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os
meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas
vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas
vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente
sujo,
Eu, que
tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que
tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho
enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho
sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho
sofrido enxovalhos e calado,
Que quando
não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que
tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que
tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que
tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que,
quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da
possibilidade do soco;
Eu, que
tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico
que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente
que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve
um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi
senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera
ouvir de alguém a voz humana
Que
confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que
contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são
todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há
neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes,
meus irmãos,
Arre, estou
farto de semideuses!
Onde é que
há gente no mundo?
Então sou só
eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as
mulheres não os terem amado,
Podem ter
sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que
tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso
eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho
sido vil, literalmente vil,
Vil no
sentido mesquinho e infame da vileza."
Escrito na
forma de uma crônica, como um desabafo e um tapa na cara da sociedade; aqui ele critica o ser humano em geral, a
hipocrisia das pessoas em dizer ser bom em tudo, querendo superficialmente
mostrar umas às outras que sua vida é melhor de que de outra pessoa. Ele
demonstra enfado de estar em um mundo onde as aparências valem mais de que você
é interiormente, onde todas as pessoas usam máscaras sociais para mostrar o quanto suas vidas são
perfeitas. Paradoxalmente, expõe todos os seus defeitos, erros e fragilidades
para mostrar o que ele é de verdade, o que somos na realidade, querendo mostrar
que sim, todos temos defeitos e falhas, que ninguém é perfeito.
Quando
olho para mim não me percebo
"Quando olho
para mim não me percebo.
Tenho tanto
a mania de sentir
Que me
extravio às vezes ao sair
Das próprias
sensações que eu recebo.
O ar que
respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao
meu modo de existir,
E eu nunca
sei como hei de concluir
As sensações
que a meu pesar concebo.
Nem nunca,
propriamente reparei,
Se na
verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal
qual pareço em mim? Serei
Tal qual me
julgo verdadeiramente?
Mesmo ante
as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem
se sou eu quem em mim sente."
Escrito na
forma de um soneto, ela usa rimas interpoladas nas duas primeiras estrofes e
rimas alternadas nas duas últimas. Destaca
aqui o questionamento do seu eu interior, carregado de sensacionismo.
Demonstra a confusão de sentimentos do eu lírico, a inquietude perante dúvidas
que talvez não possam ser resolvidas. Aqui nota se que o eu lírico está
sofrendo uma crise existencial.
Cansaço
"O que há em
mim é sobretudo cansaço —
Não disto
nem daquilo,
Nem sequer
de tudo ou de nada:
Cansaço
assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza
das sensações inúteis,
As paixões
violentas por coisa nenhuma,
Os amores
intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas
todas —
Essas e o
que falta nelas eternamente —;
Tudo isso
faz um cansaço,
Este
cansaço,
Cansaço.
Há sem
dúvida quem ame o infinito,
Há sem
dúvida quem deseje o impossível,
Há sem
dúvida quem não queira nada —
Três tipos
de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu
amo infinitamente o finito,
Porque eu
desejo impossivelmente o possível,
Porque quero
tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se
não puder ser...
E o
resultado?
Para eles a
vida vivida ou sonhada,
Para eles o
sonho sonhado ou vivido,
Para eles a
média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só
um grande, um profundo,
E, ah com
que felicidade infecundo, cansaço,
Um
supremíssimo cansaço,
Íssimno,
íssimo, íssimo,
Cansaço..."
Em forma de
poema ,e repleto de assonâncias e aliterações, o eu lírico enfatiza o cansaço,
usando por diversas vezes esta palavra e usando o adjetivo "supremíssimo", e o
sufixo "íssimo" repetidamente para dar ênfase ao cansaço. Demonstra a falta de
vontade de viver, a falta de objetivo e sentido
para sua vida. Ele questiona o porquê que ele não consegue ter a mesma vontade
pelas coisas e o mesmo sentimento, como as outras pessoas. O eu lírico demonstra
ser diferente de outras pessoas, pois no seu íntimo não sente desejos e
vontade de um sentido para viver, como é comum no ser humano; com isso, ele
demonstra bastante cansaço em não ter sentido sua vida.
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
segunda-feira, 19 de maio de 2014
As 3 fases de Àlvaro de Campos
Quando mencionamos o nome Álvaro de Campos,primeiramente vem a minha mente se tratar de um dos heterônimos de Fernando Pessoa sendo único a manifestar fase poética diferentes.
Sendo assim é possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.
Sendo assim é possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.
1ª Fase - Decadentista
Nesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.
Citações que sintetizam a fase:
-
-
- “E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
- “E eu vou buscar o ópio que consola.”
- "É antes do ópio que a minha alma é doente"
-
2ª Fase – Futurista/Sensacionista
Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atração quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase é visível no elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal), na ruptura com o subjetivismo da lírica tradicional e na transgressão da moral estabelecida. Quanto ao Sensacionismo, este revela-se na vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro), no masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões…”, Ode Triunfal) e na expressão do poeta como cantor lúcido do mundo moderno.
Citações que sintetizam a fase:
-
-
- "Quero ir na vida como um automóvel último modelo"
- "Quero sentir tudo de todas as maneiras"
-
3ª Fase – Intimista/Pessimista
A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento que provoca “Um suprematismo Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração (ex. “Tabacaria”), a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.
Citação que sintetiza a fase: "íssimo, issimo, issimo , cansaço"
Quando para e penso quem foi Álvaro de Campos,respondo para mim mesmo,foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa de mais sincero e irreverente também moderno na história de Fernando Pessoa.
Mara Rosendo RA: B917DD5
Um pouco sobre o heterônimo Álvaro de Campos
Álvaro de
Campos
Álvaro de
Campos é o heterônimo que mais se assemelha com Fernando Pessoa, considerado o
alter ego do escritor, as características de suas obras se aproximam muito com
as do ortônimo Fernando Pessoa. Nasceu
em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890 , foi engenheiro formado em Engenharia
Mecânica e Naval.
A obra de
Álvaro de Campos foi dividida em 3 fases:
- A primeira parte, é marcada pelo simbolismo, tédio e da busca por coisas diferentes;
- A segunda fase é marcada pelo otimismo da civilização, pelo futurismo;
- A terceira fase é mais intimista, mais voltada para o eu, de conflito interior.
Em geral,
sua obra é marcada pelo sensacionismo, crise existencial , amargura, dor, tédio
e solidão.
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
Um pouco sobre Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Considerado um dos escritores mais importantes de Portugal,
nasceu em Lisboa (Portugal), em 13 de junho de 1888 e veio a morrer em 30 de novembro de 1935, na mesma cidade. Quando
criança, foi morar em Durban (África do Sul), onde viveu boa parte de sua vida.
Em 1906, começou a cursar o Curso Superior de Letras, mas quase 1 ano depois,
abandonou o curso. Foi um dos responsáveis pela revista Orpheu , percursora do Modernismo em Portugal. Trabalhou
como jornalista, tradutor, editor e empresário. Foi tradutor de várias obras
importantes para o português. Morreu devido a complicações de cirrose hepática,
deixando escrita sua última frase, em inglês: “I know not what tomorrow will
bring” (Eu não sei o que o amanhã trará), um dia antes de morrer.
As principais características de sua obra são: a natureza
humana, o eu interior, o conflito de si mesmo, a dor, angústias , a metafísica,
a solidão e também temas relacionados a Portugal. Foi o poeta que mais criou
heterônimos, onde destacam se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos,
que foi o heterônimo que escolhemos para fazer nossa análise.
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
Andreza de Camargo
RA: B90506-9
No poema "Opiário", publicado no primeiro número da revista Portuguesa Orpheu, supostamente escrito em março de 1914,no "canal de Suez, a bordo", e dedicado ao "Senhor Mário de Sá-Carneiro", Álvaro de Campos descreve-se assim:
" Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, canfora na aurora
[...]
E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.
[...]
Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escórssia.Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmolas ás portas da Alegria
[...]
Volto á Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.
[...]
Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a India descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.
[...]
Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas para dormir e pra comer,
[...]
Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente despresar os outros
E, ainda que co´os cotovelos rôtos,
Ser herói, doido , amaldiçoado ou belo!
[...]
E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
E basta de comédias na minh ´alma!"
Poliana Nunes Brandão -R.a: B-9485C-0
" Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, canfora na aurora
[...]
E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.
[...]
Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escórssia.Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmolas ás portas da Alegria
[...]
Volto á Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.
[...]
Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a India descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.
[...]
Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas para dormir e pra comer,
[...]
Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente despresar os outros
E, ainda que co´os cotovelos rôtos,
Ser herói, doido , amaldiçoado ou belo!
[...]
E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
E basta de comédias na minh ´alma!"
Poliana Nunes Brandão -R.a: B-9485C-0
terça-feira, 13 de maio de 2014
Álvaro de Campos e Fernando Pessoa
Álvaro de Campos e Fernando Pessoa
Fernando Pessoa pode muitas vezes ser comparado a Álvaro de Campos.
Campos pode ter passado por três fases poéticas, no entanto a sua última fase, mais Intimista, mostra um Fernando Pessoa um pouco transfigurado. De fato, só se consegue distinguir a poesia do ortônimo da última fase deste heterônimo através das características formais, tais como figuras de estilo, ausência de rimas, versos longos e linguagem mais emotiva e descontrolada. Fernando Pessoa afirma ter criado Campos para poder dizer tudo o que não podia como Fernando Pessoa. E talvez por isso, nesta última fase poética do heterônimo, são confundíveis os poemas de ambos - ortônimo e heterônimo.
Começa por deixar transparecer a dor de se lúcido e poder pensar, ter consciência de tudo e não mais ingenuidade. Existe a angústia existencial, que demonstra uma enorme solidão interior, tristeza, dor para com o mundo e o fato de sua personalidade interior estar feita em pedaços como de um vidro estilhaçado se tratasse. Ambos demonstram a inquietação que sentem pela existência de enigmas indecifráveis que nem através de análises intensivas se conseguem explicar. Estão cansados, de algo que não se pode explicar, por variadas razões que provocam o cansaço de vida, que indicam não existirem mais razões para viver, para existir, para ser. O tema predominante é a nostalgia dos tempos passados, dos tempos de infância, o que o que provoca dores espirituais mais fortes que a pior das dores físicas. Há desencanto para com o mundo exterior, que desmotiva, entristece, perturba e magoa.
Ambos são como um só neste momento. Pessoa mostra-se mais reservado, escrevendo através de linguagem mais simples, sóbria e espontânea, enquanto que Campos, mesmo angustiado e frustrado, transmite emoções mais fortes, maior angústia e raiva, contrastando com enumerações, aliterações, pontuação emotiva e todo um sem-fim de recursos estilísticos. Pessoa prefere uma métrica curta, sucinta, com a redondilha, enquanto que Campos não se preocupa com pormenores, focando-se na transmissão do que sente.
Campos e Pessoa não podem ser comparados em mais nenhuma das fases do primeiro, por apresentarem outra características: procura de novas sensações, elegia da civilização industrial, ânsia do absoluto, vontade de ser e sentir tudo, sexualidade e masoquismo, transgressão da moral pré-estabelecida.
Roseli Mihara de Carvalho Rodrigues
R.A.: B93371-2
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888 - 1935) foi um poeta e escritor português, nascido em Lisboa. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal.
Aos seis anos de idade, Fernando Pessoa foi para a África do Sul, onde aprendeu perfeitamente o inglês, e das quatro obras que publicou em vida, três são em inglês. Durante sua vida, Fernando Pessoa trabalhou em vários lugares como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, e ao mesmo tempo produzia suas obras em verso e prosa.
Como poeta, era conhecido por suas múltiplas personalidades, os heterônimos, que eram e são até hoje objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra.
Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, com 47 anos anos de idade, vítima de uma cólica hepática causada por um cálculo biliar associado a cirrose hepática, um diagnóstico hoje é dia é contestado por diversos médicos.
Os principais heterônimos de Fernando Pessoa são:
- Alberto Caeiro, nascido em Lisboa, e era o mais objetivo dos heterônimos. Buscava o objetivismo absoluto, eliminando todos os vestígios da subjetividade. É o poeta que busca "as sensações das coisas tais como são". Opõe-se radicalmente ao intelectualismo, à abstração, à especulação metafísica e ao misticismo. É o menos "culto" dos heterônimos, o que menos conhece a Gramática e a Literatura.
- Ricardo Reis, nascido no Porto, representa a vertente clássica ou neoclássica da criação de Fernando Pessoa. Sua linguagem é contida, disciplinada. Seus versos são, geralmente, curtos. Apóia-se na mitologia greco-romana; é adepto do estoicismo e do epicurismo (saúde do corpo e da mente, equilíbrio, harmonia) para que se possa aproveitar a vida, porque a morte está à espreita. É um médico que se mudou para o Brasil.
Roseli Mihara de Carvalho Rodrigues
R.A.: B-93371-2
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