quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sou um evadido

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer

Fernando Pessoa



Neste poema nota se aliteração e assonância, como efeito de rima. Ao usar o termo “sou um evadido”,O poeta caracteriza a sua realidade, fragmentada.

Daliane Reis Santos de Jesus R.A B93372-0

terça-feira, 20 de maio de 2014

Fernando Pessoa e seus Heterônimos


Fernando Pessoa liderou o movimento modernista em Portugal, cujos ideais vieram à tona na revista Orpheu. Considerado um escritor singular e muito criativo, foi através da heteronomia que Fernando Pessoa alcançou o prestígio e o sucesso não só em Portugal, mas em toda a literatura universal.
Através de seus heterônimos, Fernando Pessoa mostrava seu vasto projeto artístico: seus heterônimos tinham biografia, estilo e ideais próprios, eram diferentes uns dos outros. Foram mais de 70 heterônimos criados, alguns desenvolvidos completamente, outros não. Os mais marcantes foram: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Como ele mesmo, Fernando Pessoa tinha um forte traço nacionalista. Alimentava o gosto pelo épico e fazia retomada às Grandes Navegações, época de grandes conquistas para Portugal que foi apagado com o tempo.
Voltando-se para temas tradicionais, vemos ainda um traço saudosista nele.
Quando falamos deste genioso artista, é necessário fazermos uma distinção entre todos os poemas que assinou com o seu verdadeiro nome - poesia ortônima e todos os outros, atribuídos a diferentes heterônimos.
Ao contrário dos pseudônimos, os heterônimos constituem uma personalidade fictícia, sobretudo de autores. Sendo assim, Fernando Pessoa não só criou outros nomes para assinar seus textos, mas, junto deles, criou suas respectivas biografias. Essa questão resulta de características pessoais referentes à personalidade do próprio Fernando Pessoa: o desdobramento do "eu", a multiplicação de identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua criação literária.

Fernando Pessoa concebia seus heterônimos não apenas como vozes poéticas, mas como indivíduos completos, com hábitos, fisionomias, tipos físicos e psicológicos específicos.
O primeiro deles, Alberto Caeiro, nasceu em 1889, em Lisboa, tendo passado praticamente toda a sua vida no campo, sem profissão definida. Perdeu pai e mãe precocemente, passando a viver com sua tia-avó. Sua educação formal limitou-se ao ensino primário, mas era um homem bastante sábio, tanto que se tornou o mestre de Álvaro de Campos, Ricardo Reis e de Pessoa “ele mesmo”. Tinha olhos azuis, era louro e de aparência mais forte do que realmente era. Morreu em 1915, vítima de tuberculose. A Alberto Caieiro é atribuída a autoria dos poemas de “O guardados de rebanhos”.
Um dos poetas mais importantes da literatura portuguesa, Fernando Pessoa escrevia também em inglês, já que morou por um bom tempo na África do Sul. Inclusive, em vida, teve mais obras publicadas em inglês, a única em português foi “Memórias”. O conhecimento em línguas fez com que trabalhasse por um longo tempo com tradução.
 Com biografias específicas, cada autor possui textos com temas e opiniões diferentes. Caeiro é o mestre, sendo admirado por todos os outros.
Fernando Pessoa pode ser classificado como modernista, já que foi um dos autores que introduziu o movimento em Portugal. Junto com escritores como Mário de Sá Carneiro, Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho. 

Fernando Pessoa (ortônimo).

Tinha uma personalidade com conflitos não solucionados, com inibições de um comportamento sexualmente indeciso, oscilando entre o melindre e a tentação dos sentidos, decepcionado pelo seu corpo material e pelas circunstâncias de vida que o limitavam - era magro, calvo disfarçado pelo chapéu, sem sucesso amoroso, sem carreira profissional, endividado, porém com uma superação na escrita que proporcionou desdobramentos de sua personalidade. Vivia em um processo constante de busca esotérica sobre si mesmo e sobre Portugal.
Apresentava reflexões sobre identidade, noções de verdade e existencialismo. Mas é importante perceber que como o escritor criou diferentes heterônimos, é possível encontrar na obra de Fernando Pessoa diferentes estilos. 

Falar sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos é se referir ao poeta que soube cantar na poesia a insustentável leveza do ser diante de algo que, ainda hoje, é indizível,mas que o maior poeta português de todos os tempos, na nossa opinião, passou a vida toda tentando nos mostrar com seus poemas e sua prosa poética, uma obra nunca finda, embora sempre pronta para receber novas gerações de espíritos apaixonados pelo fazer poético. 



Fontes
Heterônimos de Fernando Pessoa
Wikipedia - Álvaro de Campos
Wikipedia - Alberto Caeiro
Wikipedia - Fernando Pessoa
Wikipedia - Ricardo Reis


Ana Paula Lopes de Lima RA B9441D-4

Análise da obra de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Escolhemos 3 poemas para analisarmos, são estes:


POEMA EM LINHA RETA

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."


Escrito na forma de uma crônica, como um desabafo e um tapa na cara da sociedade;  aqui ele critica o ser humano em geral, a hipocrisia das pessoas em dizer ser bom em tudo, querendo superficialmente mostrar umas às outras que sua vida é melhor de que de outra pessoa. Ele demonstra enfado de estar em um mundo onde as aparências valem mais de que você é interiormente, onde todas as pessoas usam máscaras sociais  para mostrar o quanto suas vidas são perfeitas. Paradoxalmente, expõe todos os seus defeitos, erros e fragilidades para mostrar o que ele é de verdade, o que somos na realidade, querendo mostrar que sim, todos temos defeitos e falhas, que ninguém é perfeito.



  Quando olho para mim não me percebo

"Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente."


Escrito na forma de um soneto, ela usa rimas interpoladas nas duas primeiras estrofes e rimas alternadas nas duas últimas. Destaca  aqui o questionamento do seu eu interior, carregado de sensacionismo. Demonstra a confusão de sentimentos do eu lírico, a inquietude perante dúvidas que talvez não possam ser resolvidas. Aqui nota se que o eu lírico está sofrendo uma crise existencial.



Cansaço
"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço..."


Em forma de poema ,e repleto de assonâncias e aliterações, o eu lírico enfatiza o cansaço, usando por diversas vezes esta palavra e usando o adjetivo "supremíssimo", e o sufixo "íssimo" repetidamente para dar ênfase ao cansaço. Demonstra a falta de vontade de  viver, a falta de objetivo e sentido para sua vida. Ele questiona o porquê que ele não consegue ter a mesma vontade pelas coisas e o mesmo sentimento, como as outras pessoas. O eu lírico demonstra ser diferente de outras pessoas, pois no seu íntimo não sente desejos e vontade de um sentido para viver, como é comum no ser humano; com isso, ele demonstra bastante cansaço em não ter sentido sua vida.



Andreza de Camargo
RA: B90506-9

segunda-feira, 19 de maio de 2014

As 3 fases de Àlvaro de Campos

Quando mencionamos o nome Álvaro de Campos,primeiramente vem a minha mente se tratar de um dos heterônimos de Fernando Pessoa sendo único a manifestar fase poética diferentes.


Sendo assim é possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.
1ª Fase - Decadentista
Nesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.
Citações que sintetizam a fase:
“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”
"É antes do ópio que a minha alma é doente"
2ª Fase – Futurista/Sensacionista
Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atração quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase é visível no elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal), na ruptura com o subjetivismo da lírica tradicional e na transgressão da moral estabelecida. Quanto ao Sensacionismo, este revela-se na vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro), no masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões…”, Ode Triunfal) e na expressão do poeta como cantor lúcido do mundo moderno.
Citações que sintetizam a fase:
"Quero ir na vida como um automóvel último modelo"
"Quero sentir tudo de todas as maneiras"
3ª Fase – Intimista/Pessimista
A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento que provoca “Um suprematismo  Íssimo, íssimo, íssimo,  Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração (ex. “Tabacaria”), a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.
Citação que sintetiza a fase: "íssimo, issimo, issimo , cansaço"


Quando para e penso quem foi Álvaro de Campos,respondo para mim mesmo,foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa de mais sincero e irreverente também moderno na história de Fernando Pessoa.

Mara Rosendo  RA: B917DD5

Um pouco sobre o heterônimo Álvaro de Campos

Álvaro de Campos

Álvaro de Campos é o heterônimo que mais se assemelha com Fernando Pessoa, considerado o alter ego do escritor, as características de suas obras se aproximam muito com as do ortônimo  Fernando Pessoa. Nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890 , foi engenheiro formado em Engenharia Mecânica e Naval.

A obra de Álvaro de Campos foi dividida em 3 fases: 
  • A primeira parte, é marcada pelo simbolismo, tédio e da busca por coisas diferentes; 
  • A segunda fase  é marcada pelo otimismo da civilização, pelo futurismo;
  • A terceira fase é mais intimista, mais voltada para o eu, de conflito interior.


Em geral, sua obra é marcada pelo sensacionismo, crise existencial , amargura, dor, tédio e solidão.



Andreza de Camargo 
RA: B90506-9

Um pouco sobre Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Considerado um dos escritores mais importantes de Portugal, nasceu em Lisboa (Portugal), em 13 de junho de 1888 e veio a morrer  em 30 de novembro de 1935, na mesma cidade. Quando criança, foi morar em Durban (África do Sul), onde viveu boa parte de sua vida. Em 1906, começou a cursar o Curso Superior de Letras, mas quase 1 ano depois, abandonou o curso. Foi um dos responsáveis pela revista Orpheu ,  percursora do Modernismo em Portugal. Trabalhou como jornalista, tradutor, editor e empresário. Foi tradutor de várias obras importantes para o português. Morreu devido a complicações de cirrose hepática, deixando escrita sua última frase, em inglês: “I know not what tomorrow will bring” (Eu não sei o que o amanhã trará), um dia antes de morrer.

As principais características de sua obra são: a natureza humana, o eu interior, o conflito de si mesmo, a dor, angústias , a metafísica, a solidão e também temas relacionados a Portugal. Foi o poeta que mais criou heterônimos, onde destacam se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, que foi o heterônimo que escolhemos para fazer nossa análise.


Andreza de Camargo
RA: B90506-9